A Câmara de Comércio Exterior (Camex) só aguarda aval do ministro da Economia, Paulo Guedes, para baixar uma resolução que está pronta e prevê zerar as alíquotas de importação de bens de capital, informática e telecomunicações que têm produtos nacionais similares. Se implementada, a medida dará a largada para a abertura comercial prometida por Guedes desde a campanha eleitoral do presidente Jair Bolsonaro.
Desde a transição, o ministro se baseia em um estudo feito pela Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República que mostrou as vantagens da abertura comercial para a economia. O atual presidente da Camex, Carlos Pio, foi um dos responsáveis pelo estudo.
Mas não há consenso sobre os dados do estudo. A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) contratou a consultoria LCA para contestar um estudo do Instituto de Pesquisas Econômica Aplicada (Ipea) que ajuda a embasar o plano de abertura comercial do governo federal.
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De acordo com o jornal Folha de S. Paulo, a cúpula da Abimaq reuniu-se há cerca de um mês com o presidente do Ipea, Carlos Von Doellinger, e reclamou da metodologia do estudo. Pesquisadores do Ipea confirmaram o encontro ao veículo e afirmaram que Von Doellinger cobrou explicações do diretor do Departamento de Estudos e Relações Econômicas e Políticas Internacionais (Dinte).
Os representantes da Abimaq consideram que os participantes do Ipea deturparam a metodologia usada internacionalmente para calcular o impacto das reduções tarifárias de bens de capital, informática e telecomunicações sobre a economia e o emprego.
Abertura radical
Essa manobra teria forjado números favoráveis a uma abertura comercial mais radical, alinhada com a do governo. Para mostrar que o Ipea induziu a erro, a Abimaq aguarda a conclusão do estudo da LCA.
Resultados prévios mostram que a participação do setor no Produto Interno Bruto (PIB) cairia 0,58%, pela simulação do Ipea. Nos cálculos da LCA, essa queda seria de 7% nos primeiros três anos de redução tarifária.
Em linhas gerais, a consultoria refez a modelagem do Ipea usando os padrões internacionais. Depois, aplicou um modelo próprio de comparação para avaliar os impactos de uma abertura comercial no PIB, na balança comercial, na produtividade e no emprego.
O primeiro problema verificado no estudo do Ipea foi o uso de uma base de dados nacional. Os demais estudos usam parâmetros globais de comércio entre os países. O estudo do Ipea mostrou que uma queda de um ponto percentual na tarifa média de importação gera um aumento de 0,66% ao ano na produtividade total dos fatores.
A indústria considera que, pelos cálculos do Ipea, os efeitos dessa produtividade ficaram comprometidos pelo uso de dados de 20 anos atrás, período em que o país se beneficiava dos efeitos da liberalização comercial.
A partir daí, o estudo mostra que o PIB cresceria, no máximo, 0,2% a partir de 2029. Os investimentos teriam seu ápice de crescimento em 2025 (0,47%). A balança comercial registraria uma alta recorde (0,2%) em 2030. Por fim, a abertura teria impacto neutro sobre o emprego.
Desemprego
No estudo feito no ano passado pela Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE)), da Presidência da República, a abertura generalizada da economia levaria a 3 milhões de desempregados. Por meio de sua assessoria, o Ipea disse à Folha que não houve qualquer deturpação para que se chegasse a resultados favoráveis a políticas de governo.
O instituto afirmou que “não defende redução mais ou menos drástica de tarifas” e que está preparando novos estudos para municiar o governo. O Ipea informou ainda que o uso de dados nacionais foi a opção adotada porque se trata de uma proposta de “abertura unilateral”.
Abertura comercial: Abimaq contestará estudo que embasa o plano do governo

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