Há caminho para o desenvolvimento com sustentabilidade, e ele passa por pesquisa, desenvolvimento e pela bioindústria. Esta é a conclusão do estudo “Amazônia e a Bioeconomia”, elaborado pelo Instituto de Engenharia (IE), que aponta os meios para essa transição. “O País precisa investir mais em Educação, Ciência e Tecnologia e oferecer um ambiente de negócios estável e internacionalmente competitivo para poder se apropriar de seu mais significativo diferencial: ter a maior biodiversidade do planeta, parte significativa dela na Amazônia. E antes de mais nada, o Brasil precisa imaginar, discutir e escolher que desenvolvimento quer e pode fazer acontecer na Amazônia”, afirma o relatório.
Se não houver uma mudança na estratégia para a região, o adensamento populacional vai aumentar. De acordo com a pesquisa, a população dos estados da Amazônia legal, que em 1991 somava 16,1 milhões de pessoas (10,9% da população nacional), agora está em 29,3 milhões (14,1% da população nacional). Na análise das condições, verificou-se que a precariedade na qualidade de vida: apenas dois dos nove estados da Amazônia Legal, Rondônia e Mato Grosso, apresentam média menor que a nacional de pessoas vivendo na extrema pobreza e na pobreza. Na região, apenas 40,1% dos domicílios conta com banda larga, contra 67,4% do restante do país.
A proposta do levantamento é provar que é possível obter mais renda e riqueza com o desenvolvimento sustentável. O relatório aponta que um hectare que produz castanha, cacau ou açaí, culturas que precisam de áreas preservadas para se desenvolver, gera uma renda anual de R$ 12.300 por hectare, enquanto que a soja e a carne, desenvolvidas em áreas desmatadas, gera renda anual de R$ 604 por hectare.
Mas para esta mudança ocorrer será necessário investir em pesquisa e tecnologia para o desenvolvimento de produtos e meios de produção sustentáveis. O IE indica que o Brasil já teve casos de sucesso no passado, como ITA, Inpe, Embrapa, CPQD. Porém é urgente elevar o investimento em ciência e tecnologia. No Brasil, a destinação de recursos para essas áreas a 0,6% do PIB, metade do registrado na China (1,2%), menos da metade da média da OCDE (1,3%) e muito aquém da Coreia do Sul (2,6%).
O estudo aponta os sete fundamentos da “Amazônia 4.0”, que vai desde o aproveitamento do conhecimento sobre a região por parte de pesquisadores, a compreensão do conhecimento da floresta, distribuição igualitária dos benefícios socioeconômicos e fundamentalmente produzir bens e serviços de maneira sustentável, entre outros pontos.
A partir desta base, a pesquisa lista as medidas para alcançar este desenvolvimento sustentável. Entre elas estão a Centralidade Estratégica da Bioeconomia para o Brasil, a biodiversidade em primeiro plano; e Governança, com o governo federal assumindo um papel de criar e implementar uma Política Nacional de Bioeconomia com a criação de um Conselho Nacional da Bioindústria.
Além destas, o estudo aponta para a necessidade do desenvolvimento do sistema de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I), que é a implantação de um programa de atração e fixação de pesquisadores e empresas para atuar na região com apoio total a uma infraestrutura de pesquisa. Outros pontos importantes são o fortalecimento das instituições de ensino e pesquisa e transformação da Amazônia em um Hub de excelência em CT&I, com o objetivo de desenvolvimento de um expertise nacional sobre a região.
Tão importante quanto os aspectos que envolvem investimentos em desenvolvimento tecnológico aplicado à sustentabilidade, os pesquisadores mostram preocupação em relação à evolução populacional. Estima-se que hoje 29,3 milhões de pessoas vivam na Amazônia Legal brasileira, parte significativa dessas pessoas estão abaixo da linha da pobreza. Como será a região quando chegar aos 40 milhões, 50 milhões de habitantes? A pergunta feita pelo estudo é sobre o que se espera para o futuro dessa região.
“O modelo de desenvolvimento do País dos últimos 500 anos fatalmente comprometerá nossa biodiversidade. Precisamos encontrar um novo modelo que garanta o acesso a saúde, educação e habitação, sem comprometer as oportunidades das gerações futuras. A meu ver, isso pode ser alcançado com o desenvolvimento científico e tecnológico no campo da bioeconomia circular”, argumenta George Paulus, coordenador do caderno e conselheiro do IE
Para Carlos Nobre, é possível conciliar desenvolvimento econômico, intelectual e social da Amazônia, com a simultânea conservação a floresta tropical. Durante pelo menos duas ou três décadas, apenas duas vertentes eram pensadas como possíveis, a primeira via, que afirma que há a necessidade de isolar completamente e garantir a preservação de grandes extensões da floresta, e a segunda via, baseada em uso intensivo de recursos naturais, por meio das atividades e serviços da pecuária, agricultura, mineração e geração de energia.
“A Terceira Via Amazônica representa uma oportunidade para desenvolver uma ‘economia verde’ que aproveite todo o valor de uma ‘floresta produtiva permanente’ para, com a ajuda de novas tecnologias físicas, digitais e biológicas já disponíveis ou em evolução, estabelecer um novo modelo de desenvolvimento econômico socialmente inclusivo”.
O estudo foi coordenado pelo cientista e engenheiro Carlos Nobre e pelo engenheiro George Paulus, do IE. Ele conta ainda com a participação do reitor da Universidade de São Paulo, Vahan Agopyan; Carlos Brito Cruz, VP sênior da Elsevier e ex- reitor da Unicamp; Tatiana Schor, secretária-executiva de Ciência, Tecnologia e Inovação do Amazonas; Ana Euler, pesquisadora da Embrapa Amapá; Adalberto José Val, pesquisador do INPA e um dos integrantes do Conselho da Amazônia; Ary Plonski, diretor do IEA-US.
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